recordações que guardo caminhando por ai...

22 de julho de 2011

O DEUS DA MISERICÓRDIA

“Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto” (Lucas 10:30).
E é assim que a maioria das pessoas ao nosso redor se encontram: espiritual, emocional e fisicamente assoladas, espancadas, sendo rompidas pelas diversas situações da vida. Normalmente falamos muito da degradação espiritual; mas acho importante tratar das outras duas, principalmente a física. Um homem descia de Jerusalém para Jericó e de repente se viu totalmente desprovido de tudo o que possuía. Ele foi atingido fisicamente e moralmente, sobrando pouco de sua dignidade. Ele estava jogado na beira da estrada, sem expectativa, sem coragem ou força para levantar. Podemos imaginar a cena: passou alguém do seu lado. Olhou. Continuou seu caminho. O sacerdote, a quem podemos comparar com um cristão religioso hoje, colocou-se em um nível superior. Deve ter pensado: se esse homem está ai nesse estado ele deve ter merecido. Está pagando o preço de seus pecados. Está onde deveria estar. Eu sou puro demais, sou santo demais, não devo tocar em algo imundo, pois iria me contaminar. Algumas horas depois entra em cena o levita. Os levitas cuidam das tarefas no templo. Sempre estão servindo, provendo o necessário para que tudo fique em ordem e o culto siga. Esse homem, conhecido por ser um servo de Deus, perturba-se com a cena de ver um ser humano caído na beira do caminho. Por um momento ele pensa em ajudar, mas alguma coisa o impede: estou muito atrasado! Já deveria estar na igreja, todos vão me cobrar por não ter chegado ainda. Preciso me apresar, tenho muitas coisas pra fazer. Não há tempo para ajudar os outros agora. Talvez mais tarde. E assim o levita segue seu caminho, já planejando tudo o que precisava fazer para que todos vissem que ele era um bom homem de Deus, um bom cristão.
Há alguns anos era perceptível que as “boas ações” eram a marca do povo de Deus. Inclusive, elas começaram a ser vistas como a única forma de mostrar que alguém era cristão. As caridades eram necessárias para que todos vissem que você estava seguindo o caminho de Jesus , “amando” ao próximo. Hoje, na maioria das vezes não faltam ofertas generosas para missões e apoio a grupos de evangelismo. O pensamento vigente é: nem todos precisam ser ativos nas “boas obras”, basta dar uma ajuda aqui, outra ali. Cada um serve como quer, da forma mais confortável possível.
Mas a história continua, e o verdadeiro servo se revela. Um samaritano estava viajando e, passando pela estrada, viu o homem jogado aos cantos, sem esperança, ignorado pelos que mais provavelmente iriam prestar socorro. Os povos desses dois homens não se davam bem, por isso a última pessoa de quem o homem assaltado esperaria ajuda era do samaritano. Na verdade, na situação em que se encontrava, ele não tinha mais um pingo de esperança. Mas Deus sempre nos surpreende. Traz ajuda de onde não se espera nada de bom (de Nazaré não se esperava nada de bom, contudo de lá Deus trouxe Jesus para dar salvação). Aquele samaritano não buscou aparecer ou ser recompensado por suas “boas ações”. Ele não teve pena do que viu, ele teve misericórdia. Ele não disse “o que é meu é meu”, como o levita e o sacerdote, e muito menos disse “o que é seu é meu”, como os assaltantes. Ele gastou seu dinheiro, utilizou seus recursos, seu meio de transporte, seu tempo, seu coração para salvar uma vida. Para ele valia a pena tudo para salvar apenas uma vida. Ele se mostrou o verdadeiro cristão. Ele não escolheu a forma como queria servir, a que ele tinha mais aptidão: servos não escolhem como servir, eles apenas servem da forma que seu senhor mandar.
Temos que servir uns aos outros, não apenas dentro da igreja, mas fora dela, para que o mundo saiba de quem somos filhos: do Deus do amor, da graça, da misericórdia. Não podemos viver apenas de palavras: isso é vão.
Sim, todas as pessoas precisam ser atendidas com o amor do povo de Deus, mas quero ressaltar um grupo de pessoas que tem despertado atenção no meu coração: os mendigos de rua. Presenciei algumas cenas e participei de alguns momentos que me deixaram próxima de alguns desses homens e mulheres que se encontram a margem da sociedade brasileira. São desprezados, precisam comer lixo, não por opção, mas pela falta dela. Passam muito frio, um frio muitas vezes insuportável, além da capacidade humana. Torcem para que junho e julho demorem a chegar, e o frio que vem com eles também. Na maioria das vezes, quando passamos do lado dessas pessoas, fazemos ações que são pura demonstração de piedade, e não de misericórdia. Nossas ações são para nos satisfazerem, limparem nossa consciência, fazer a “boa ação do dia”, e não para transformar vidas pelo amor e pelo poder da Palavra de Deus. O que adianta apenas pregar se as ações não acompanham? O que adianta fazer milhões de boas ações para se vangloriar? O que adianta fazer coisas se a esperança da salvação em Cristo não é a principal ferramenta a ser usada. Ações e palavras de esperança andam juntas.
O Projeto Agasalhos surge com o intuito de proporcionar esse link entre as ações de amparar o necessitado fisicamente e a ação de levar as boas novas da salvação. A juventude dessa igreja percebeu que é hora de sair das quatro paredes e se mostrar como verdadeiros cristãos. Convidamos e convocamos toda a igreja a fazer isso conosco. Nós fomos alimentados espiritual, emocional e fisicamente: é hora de alimentar outros. Esse projeto visa alcançar os mendigos de rua da Rodoviária do Plano Piloto, inicialmente, oferendo agasalhos, cobertores e calçados (começamos a partir de hoje a arrecadar na igreja), alimentos (precisamos de contribuições para comprar pão e sopa) e a Palavra que levanta o perdido, que dá esperança ao sofrido, através da distribuição de pequenas Bíblias e do evangelismo falado. O ambiente que vamos adentrar não é fácil, por isso precisamos de todo apoio possível: oração, pessoas no dia da ação, doações e recursos financeiros. Dia 20 de Agosto, às 21h30, sairemos da Igreja Presbiteriana do Lago Sul para a primeira experiência. Quem está dentro? Vamos servir.

                                                                              Thalita Neves

1 de julho de 2011

De volta a Casa do Pai

Deus, na sua infinita graça, sempre concede oásis em meio ao extenso deserto.

Tenho experimentado, como eu disse no meu ultimo post, grandes tristezas e grandes alegrias. Foquei muito nas tristezas da última vez e, pensando melhor, descobri que isso não leva a nada. Claro, é sempre necessário o crescimento, mas ele não vem só através das dores da vida: os momentos de tirar o fôlego de tanta alegria me tem feito crescer muito. Gostaria de compartilhar uma experiência que tive recentemente.

Estava voltando do Encontro Nacional de Obreiros da Mocidade para Cristo (MPC). Depois de deixar uma amiga que estava muito doente em casa, passei em um drive true do McDonalds: era a forma mais rápida de comer e ir pra casa. O ENO foi maravilhoso: Deus me tratou intimamente através de cada palavra e de várias pessoas e seus testemunhos. Mas eu não estava bem: recebi notícias muito difíceis também que me fizeram retrair. Diversas dúvidas assolavam meu coração e eu não sabia como lidar com elas. O acampamento foi atacado por um onda de vírus que provocou muito mal estar em vários acampantes. Uma das minhas amigas, sentindo-se muito mau, pediu para leva-la em casa. Esse pedido se juntou com a minha vontade enorme de ir pra casa: eu queria mesmo descansar e passar um tempo quieta, pois era certa que já tinha recebido muito de Deus no encontro. Queria me aquietar.
Com isso, deixei a amiga em casa e, ao ligar pros meus pais, descobri que eles estavam em um aniversário. Minha certeza era: não sai do meio da multidão para entrar em outra multidão, então escolhi o caminho para um almoço rápido e, logo depois casa!
Quando cheguei no Mc de umas das quadras da Asa Sul, o drive tru estava fechado (algo nada comum), então fui obrigada a descer do carro e entrar no estabelecimento para comprar o almoço rápido. Ao sair com meu saquinho de comidas nada saldáveis, deparei-me com um menino de uns 19 anos sentado perto do carro. Olhei pra ele e meu coração fisgou uma coisa: seu olhar desolado. Ele estava chorando por dentro. Eu percebi que ele estava cuidando dos carros. Meu cansaço falou mais alto. Minha vontade falou mais alto do que a voz de Deus me mandando dar uma palavra de esperança para aquele jovem. Eu entrei no carro egoistamente, liguei o motor e fui para uma deliciosa tarde de sono profundo. Acordei. Esqueci a cena. Fiquei com meus pais, assisti a um filme, liguei o computador e o sono bateu de novo. Já eram quase 0h. Eu fui pro meu quarto e comecei, hipocritamente, minha devocional diária. Ao abrir a Bíblia ao “acaso”, deparei-me com versículos que tinham uma mensagem clara: que amor é esse que vocês aprenderam e não vivem? Continuei lendo interessada. Estava claro que tudo ali falava de um amor que provinha de Deus, entrava em nós e era manifesto por obras.  Todos precisam desse amor. Todos. Como creram se não há quem pregue?
De repente, uma lembrança me veio a mente como um soco dado pelo próprio Deus. “Thalita, porque você não me obedeceu hoje? Aquele jovem precisa de mim. Vá agora lá”. Nossa...e que soco. Eu comecei a chorar pedindo perdão a Deus. Fui cercada de um enorme constrangimento. E agora? Finjo que não ouvi nada? Meu Deus, são quase 0h, você ta maluco? Eu? Sair sozinha essa hora? Ir em um lugar escuro? O menino nem deve estar lá!
Não adiantou. O sono foi embora e a voz do Espírito Santo não parava de falar ao meu coração: ora me lembrando do meu dever como cristã, ora me levando a amar um jovem que não conhecia e a perceber o quanto ele se parecia comigo antes de Cristo.

Cansada de lutar contra meu EU egoísta fui à sala. Encontrei minha mãe tocando lindamente teclado, louvando ao Senhor enquanto preparava o louvor do domingo (a essa hora já era quase domingo). Eu contei pra ela o que tinha acontecido e o quando Deus estava tocando no meu coração. Peguei um casado para dar ao menino, algum alimento e uma Bíblia NVI para entregar ao jovem. Minha mãe se espantou um pouco e me deu uma bronca dizendo que deveria ter ido a tarde. Eu pedi perdão, disse que errei. Logo ela disse “vou com você”.

Depois de avisar meu pai dessa loucura santa, entramos no carro, colocamos uma música e fomos ao mesmo lugar que tinha estado algumas horas antes. Chegando lá tentei reconhecer o rosto do menino, mas agora não havia mais um jovem, mas uns cinco! Eu não conseguia ter certeza de quem era o jovem que havia visto a tarde. Desci do carro (com certeza minha mãe ficou olhando do retrovisor orando) e fui falar com outro jovem que estava perto dos carros vigiando.

Aproximei-me dele, disse meu nome e perguntei quem era o jovem que esteve ali à tarde no mesmo dia. Ele me disse o nome do único rapaz que esteve ali no horário que eu informei e falou que ele tinha acabado de ir embora. Eu perguntei o nome dele e disse o porque estava ali, contei a história e ele ficou muito interessado. Depois de ser informada de que no domingo ele estaria ali por volta de 11h fui embora.

Não entendi muito porque Deus havia me incomodando tanto se o jovem que eu tinha visto nem estaria no estacionamento. Mas logo descobriria que o plano dele era bem mais amplo.

No dia seguinte fui à igreja, mas minha mente não parava de pensar na experiência que teria daqui a poucas horas. Quando deu 11h saí voando! Quando cheguei ao estacionamento do drive tru fastfood encontrei apenas um jovem, o que havia conversado na noite anterior. Perguntei a ele se o jovem que procurava já estava chegando. Ele respondeu que logo e eu voltei para o carro. Novamente o Espírito Santo cutucou meu coração e eu já havia entendido o que era.
Voltei para o meio fio onde o menino estava sentado e me sentei ao seu lado. Começamos a conversar e logo estávamos falando das dores do coração dele, de suas dificuldades e da sua vida. Ele era de outro estado brasileiro e, recém chegado a Brasília, já queria voltar pra casa, pois as dificuldades estavam enormes. Ele morava hora lá hora aqui, sem sua família e com poucos amigos: apenas colegas de trabalho. Eu falei do meu testemunho e de como Deus havia suprido tudo o que estava vazio em mim. Ele gostava muito de histórias da Bíblia e começou a pedir para eu contar: devo ter contado umas 10, até a história do meu nome foi contada (Talita, filha da Jairo, a menina que Jesus ressuscitou). Ele conhecia algumas coisas, mas estava longe de Jesus. Ao final da conversa, quando avistamos o jovem que eu procurava sentado do outro lado da rua, o garoto com o qual eu conversava tinha percebido o quanto precisava de Deus: eu percebi que o propósito de Deus era muito maior do que eu imaginava. Durante a nossa conversa um casal de jovens com uma criança chegou e ouviu nossa conversa, ou seja, ouviram sobre o amor de Deus, mas logo tiveram que ir embora.

Atravessei a rua e me sentei ao lado do jovem que tanto procurava. Ele me olhou curioso. Eu disse “Olha, eu nunca vi alguém mais amado que você. Deus me mandou aqui porque ele quer que você saiba o quanto te ama”. Esse foi o início da conversa, mas eu apresentei pra ele o plano da salvação: a pessoa, a obra e os ensinamentos de Jesus Cristo, mesmo que resumidamente. Conversamos com muito tempo. Ele falou das dificuldades que vinha passando com seus pais e seus irmãos. Eu o ouvi atenta, sabia que essa era a maior necessidade naquela conversa: aprender a ouvir. Em algumas momentos dava uma boa palavra. Eu não sabia de onde estava vindo tudo o que falava; de repente surgiu em uma compaixão além dos limites no meu coração: era Deus me mostrando o quando amava aquele menino. Existia um propósito ali maior do que eu imaginei.

Para a glória de Deus, houve festa no céu naquele dia. Ao final da nossa conversa, nós oramos e o rapaz entregou a vida a Cristo, admitindo suas falhas e me disse “eu quero que tudo em minha vida seja transformado”. Essa frase fez todos as minhas dores pareceram pequenas. O amor de Deus era maior que todas elas.



“Hoje é dia de festa na casa do Pai
Todo dia é festa na casa do Pai
Sempre existe uma chance
Sempre há tanta esperança
Como toda criança, a minha festa é na casa do Pai

Porque o filho retorna para a casa do Pai
O lugar do folguedo: casa do Pai
Nosso Deus amoroso, nosso Pai carinhoso
Todo dia é dia de folia na casa do Pai

Na casa do Pai há abundância de alegria
Na casa do Pai, segurança e proteção
Na casa eu vejo tudo o que não via
Longe do pecado e da minha ilusão

A casa do Pai é o melhor lugar do mundo
A casa do Pai, Casa de Oração
Casa do pai é meu modelo, pão e vinho
Casa do Pai e nosso próprio coração”

                               Gerson Borges